Sempre que me perguntam porque Deus deixa acontecer coisas ruins com pessoas "inocentes"; costumo responder esta questão usando uma frase de Baruch Spinoza: “As coisas nos parecem absurdas ou más porque delas só temos um conhecimento parcial e estamos na completa ignorância da ordem e da coerência da natureza como um todo. ”

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Teimosia X Opinião


Créditos a Imagem
Estamos carentes de pessoas que defendam suas próprias opiniões.
Aliás é digno de respeito quem sustenta seus pensamentos de forma coerente e sem interferências externas. Digo isto, mas sempre observando o cuidado em não se tornar uma pessoa teimosa.

Todo homem deveria estar consciente daquilo que defende, sempre aberto para diálogos e ideias contrárias. Não há mal algum em ser uma pessoa humilde ao reconhecer quando seus argumentos são rebatidos com coerência e mudar suas opiniões quando realmente estiver convencido.

O grande segredo para conseguir isto é algo que a muito tempo caiu em desuso por algumas pessoas, saber ouvir. 

Hoje o que mais vemos são pessoas tentando impor suas práticas, sejam elas quais forem, tendo por base apenas o discurso da modernidade, dos “novos tempos” ou baseando-se em seus "mundinhos" aos quais foram criados.
Cheguei a uma triste conclusão em que muitos não querem mais discutir, só querem impor as suas certezas.

Coloquei esta imagem ao lado como exemplo para ilustrar uma situação. Por muito tempo acreditei nos comentários que lia sobre este desenho, onde duas pessoas em posições diferentes observavam a mesma situação e cada uma delas com uma resposta diferente, mas com a sugestão que ambas estão certas.
Este quadro tenta ilustrar uma ideia até certo ponto interessante, da perspectiva de cada um sobre o mesmo assunto, onde as duas partes estão certas em suas definições, mas será que isto é verdade? 

Se aprofundarmos mais nesta situação, podemos sugerir a ideia em que um dos dois esteja errado em sua afirmação, ou temos um seis, ou um nove. Ambos estão diante de algo que julgam conhecer, mas desconhecem os fatos ao redor, o cenário como um todo e principalmente, a sua função proposta por quem demarcou aquele espaço.

Pode ser um seis ou pode ser um nove, um dos dois está correto em sua afirmação, mas o fundamental quando opiniões distintas acontecem, é que se disponham a ouvir, a pesquisar, entender todo contexto e não apenas o que está diante de si.

Da mesma forma que temos pessoas que se deixam levar apenas por aquilo que está em sua frente, outras  trazem consigo uma bagagem que não foi ela quem conquistou, mas que vem de geração em geração, damos para isto o nome de "Tradição".

Pessoas ligadas a algumas tradições, ensinamentos passados por gerações que poucos sabem a origem, mas ninguém ousa desafiar. Sem qualquer curiosidade de entender porque fazem ou porque respeitam isto, acabam passando isto a diante. 
Embora parece ser algo sem importância, precisamos ter muito cuidado com algumas destas questões, Jesus nos alerta para isto:

“E, assim, invalidastes a palavra de Deus, por causa da vossa tradição” (Mateus 15:6). 
“Por que transgredis vós também o mandamento de Deus, por causa da vossa tradição?” (Mateus 15:3).
“E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens” (Mateus 15:9). 

É tão sério isto que Jesus chega a dizer que: "..em vão me adoram..", justamente porque colocam as tradições como regras intocáveis desafiando qualquer argumento, coerentes ou não.

Diga-se de passagem, Jesus era muito questionado sobre tradições e costumes por pessoas que traziam consigo velhas leis que vemos no Antigo Testamento.

As tradições também são responsáveis por um posicionamento contundente e definitivo para algumas pessoas incapazes de aceitar a possibilidade de dialogar. Para esta pessoas queria deixar apenas uma palavra: "Tolerância". 

A tolerância é a chave que abre uma parte do nosso cérebro onde acessamos a capacidade de ouvir.  
Quando ouvimos com atenção e ponderamos o que nos foi dito, podemos analisar melhor e aceitar ou não tudo que foi explanado. Se depois de tudo ainda não concordarmos, certamente seus argumentos estarão mais fortalecidos.

O importante é enxergar sempre com um sentimento de respeito aquela pessoa que pensa diferente de nos.
Dentro de cada um de nós existem infinitas possibilidades, sonhos e pensamentos que voam em diversas direções. Talvez seja de comum acordo que todos buscam a felicidade, mas para cada "mundo", que cada um de nós representa, a felicidade é encontrada em lugares diferentes, por isto divergimos em determinadas situações.
O respeito é o equilíbrio que faz estas diferenças coexistirem, sem ele tudo fica mais complicado e estressante.

Quero terminar com um trecho de um pensamento de Ricardo Gondim:
"..Quero falar de Deus sem exigências messiânicas; desprovido da presunção de lídimo defensor da sã doutrina. Desejo tão somente oferecer o ombro e abrir mão de minhas muitas explicações. Se no passado confundi entusiasmo com afobação, zelo com intolerância, arrojo com precipitação, hoje tento um pisar mais simples diante de Deus e dos homens.

Quero falar de Deus com mansidão. Sem reputação a defender. Quero encarnar o significado mais profundo de “estar crucificado com Cristo”. Depois de tantos anos, ainda não me vesti da mesma atitude do meu Senhor, que se esvaziou para servir.
Quero falar sobre bondade, essa rara e nobre virtude que transcende nossas ações para nos integrar ao agir de Deus. Preciso ser bondoso comigo mesmo, não deixando que falsas culpas detonem processos internos de intransigência com o próximo; ser paciente com as inadequações dos que claudicam e doar-me como São Francisco de Assis: “Ó Mestre, fazei que eu procure mais consolar que ser consolado; compreender que ser compreendido, amar que ser amado. Pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado e é morrendo que se nasce para a vida eterna”.

Soli Deo Gloria.
José Luiz de Paiva

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