Sempre que me perguntam porque Deus deixa acontecer coisas ruins com pessoas "inocentes"; costumo responder esta questão usando uma frase de Baruch Spinoza: “As coisas nos parecem absurdas ou más porque delas só temos um conhecimento parcial e estamos na completa ignorância da ordem e da coerência da natureza como um todo. ”

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Moldar ou Ser Moldado?


A evolução da humanidade vem como ondas em um mar agitado, quando passam muitas coisas em seus caminhos não são mais como antes, é inevitável. O que estas ondas da evolução trazem de novidade e nos influenciam em nosso relacionamento com Deus, é o que precisamos nos perguntar.

Continuamos compreendendo a necessidade de estar com Ele, mas se observarmos vamos perceber que, conforme evoluímos, sofremos uma forte tendência em molda-Lo ao nosso comportamento, estamos vivenciando um processo de inversão de valores.

Os otimistas acreditam que tudo ficará bem e na hora certa as coisas se resolverão, como se Deus trabalhasse sempre ao nosso favor, bastando para isto viver dentro da “moral” da qual cada um tem a sua.
Esta teoria pode funcionar as vezes quando pedimos socorro a Deus em favor aos nossos problemas diários, falta de emprego, dividas e saúde, mas não são estas ações que determinam nossa caminha com o Pai.

Quando perguntamos quem acredita realmente em Deus, o percentual de “sim” é sempre maior do que aqueles que não acreditam, mas mesmo entre os que crêem, muitos ainda pecam na forma como encaram suas crenças.

Nos dias atuais percebemos muitas pessoas tratando a Deus da mesma forma que agem com os seus pais: Respeitam, amam e tem um certo temor, mas quando atingem uma certa idade já não aceitam que eles participem e se envolvam em grande parte de suas vidas.
As vezes saem de casa, vão morar sozinhos ou se casam, aquela figura paterna começa a se resumir aos finais de semana, telefonemas, visitas quando estão com saudade ou se necessitam de algo.
Mesmo aqueles que conseguem manter um relacionamento diário com seus pais, entendem que já não existe mais aquela dependência, passam a tomar suas próprias decisões e só partilham com eles os resultados.

Podemos atribuir estas atitudes ao processo de evolução pessoal, do amadurecimento e como parte do pacote de responsabilidades dos quais precisamos assumir.
É bom que se saiba, embora tenhamos Deus como nosso Pai, não podemos agir da mesma forma com Ele.
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Esta caminhada que nos leva ao amadurecimento pessoal traz muitas distrações em todos as direções que escolhermos seguir, sejam elas agradáveis ou não. 

Ouvi um sermão recentemente onde o pregador descreveu os três tipos de dificuldades que acontecem em nossas vidas.
Primeira: Dificuldades que poderiam ser evitadas. Aquelas que são resultado de nossas escolhas, quando escolhemos fazer a coisa certa evitamos que aconteça.
Segunda: Dificuldades que não podem ser evitadas, mas podem ser resolvidas. São aquelas que acontecem independente de nossas escolhas, mas que somos capazes, através de nossas atitudes resolve-las.
Terceira: Dificuldades que não podem ser evitar e tão pouco serem resolvidas. São aquelas que acontecem sem nenhuma interferência de nossa parte e que não somos capazes de resolve-las, precisamos aprender a conviver com ela.


Seja ela qual for um dia teremos que enfrenta-la, independente da nossa vontade, mas a boa notícia é que temos opções de como queremos passar por elas, sozinhos ou acompanhados.

Geralmente quando temos um problema de saúde e precisamos ir ao médico, principalmente quando pensamos ser algo grave, costumamos levar um amigo ou alguém da família. Esta pessoa que nos acompanha não mudará o diagnóstico, mas certamente nos deixará mais calmos e confortados, a presença dela nos da a sensação de que não estamos sozinhos neste problema.
É exatamente o que Deus nos oferece, nunca nos deixar sozinhos em qualquer que seja a caminhada, por mais simples ou ingrata. Ele estará ao nosso lado se assim quisermos e com a diferença que a qualquer momento poderá mudar a situação a nosso favor.

Mas por que Ele simplesmente não nos poupa destas situações ao invés de estar ao nosso lado ao enfrenta-las?
Não conheço outra frase escrita por um homem que consiga explicar isto de forma mais simples como a de Baruch Spinoza: “As coisas nos parecem absurdas ou más porque delas só temos um conhecimento parcial e estamos na completa ignorância da ordem e da coerência da natureza como um todo. ”

Exatamente isto, as coisas nos parecem absurdas porque não a compreendemos de forma completa, vivemos aqui entendendo apenas o que nos cabe compreender. “… Senhor Deus, me diga o que preciso fazer e farei; não compreendo o que está acontecendo, mas me dê forças para resistir e enfrentar aquilo que me é possível, pois sei que o impossível o Senhor fará…”
Para fazer e crer nesta simples oração a Deus precisamos de fé e não apenas do intelecto, sem qualquer apologia a ignorância.

“Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos. Pois foi por meio dela que os antigos receberam bom testemunho.
Pela fé entendemos que o universo foi formado pela palavra de Deus, de modo que o que se vê não foi feito do que é visível...”
  Hebreus 11:1,2,3.
Talvez o exercício maior que uma pessoa possa ter na vida é praticar a fé, parece que fomos condicionados a crer apenas em nossos olhos, aquilo que podemos enxergar, convém lembrar o que Jesus disse a Tomé:  “…Disse-lhe Jesus: Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram.” João 20:29
Ciente da nossa incredulidade, Jesus disse que se a nossa fé fosse do tamanho de um grão de mostarda (o menor grão que existe), seriamos capazes de remover montanhas. Mateus 17:20.

Somos falho, não temos a perfeição em nossas atitudes, é normal sentir medo, fraquezas e tristezas, mas o contrário também é verdadeiro. Podemos ser pessoas corajosas, fortes e felizes alternando estes sentimentos de contrapartida, afinal somos humanos e não devemos nos cobrar tanto.
O princípio da sabedoria é entender que estamos sempre em processo de aprendizagem e que estes ensinamentos são infinitos, aqui nunca seremos donos de toda a verdade ou a compreensão total do porque enfrentamos situações dolorosas.

Isto é a fé, uma ação seguida por uns, rejeitada por outros e que perdura desde a criação do homem. Alguns acham que simplesmente ter fé é pouco, outros tem a certeza que é o suficiente para se viver.
São dois pensamentos extremos, mas não podemos viver uma vida entre eles, ou cremos em Deus e isto implica em Conhece-lo mais profundamente do que fazemos hoje, ou deixamos a vida nos levar sem compromissos fadados a nossa própria sorte.

Se formos honestos com os nossos sentimentos, vamos perceber o quanto é difícil controla-los e ainda a dificuldade maior em controlar nossos pensamentos sem a ajuda de Deus. Alguns preferem moldar um "deus" que se enquadre em sua própria moral, fazem isto na tentativa de amenizar a culpa por suas atitudes. Acredite, a única coisa que conseguirá com isto e criar um cumplicie imaginário para seus erros.
Lembrem-se do que disse Jesus: “..Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.” Mateus 7:21

 Soli Deo Gloria
José Luiz de Paiva 





quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Teimosia X Opinião


Créditos a Imagem
Estamos carentes de pessoas que defendam suas próprias opiniões.
Aliás é digno de respeito quem sustenta seus pensamentos de forma coerente e sem interferências externas. Digo isto, mas sempre observando o cuidado em não se tornar uma pessoa teimosa.

Todo homem deveria estar consciente daquilo que defende, sempre aberto para diálogos e ideias contrárias. Não há mal algum em ser uma pessoa humilde ao reconhecer quando seus argumentos são rebatidos com coerência e mudar suas opiniões quando realmente estiver convencido.

O grande segredo para conseguir isto é algo que a muito tempo caiu em desuso por algumas pessoas, saber ouvir. 

Hoje o que mais vemos são pessoas tentando impor suas práticas, sejam elas quais forem, tendo por base apenas o discurso da modernidade, dos “novos tempos” ou baseando-se em seus "mundinhos" aos quais foram criados.
Cheguei a uma triste conclusão em que muitos não querem mais discutir, só querem impor as suas certezas.

Coloquei esta imagem ao lado como exemplo para ilustrar uma situação. Por muito tempo acreditei nos comentários que lia sobre este desenho, onde duas pessoas em posições diferentes observavam a mesma situação e cada uma delas com uma resposta diferente, mas com a sugestão que ambas estão certas.
Este quadro tenta ilustrar uma ideia até certo ponto interessante, da perspectiva de cada um sobre o mesmo assunto, onde as duas partes estão certas em suas definições, mas será que isto é verdade? 

Se aprofundarmos mais nesta situação, podemos sugerir a ideia em que um dos dois esteja errado em sua afirmação, ou temos um seis, ou um nove. Ambos estão diante de algo que julgam conhecer, mas desconhecem os fatos ao redor, o cenário como um todo e principalmente, a sua função proposta por quem demarcou aquele espaço.

Pode ser um seis ou pode ser um nove, um dos dois está correto em sua afirmação, mas o fundamental quando opiniões distintas acontecem, é que se disponham a ouvir, a pesquisar, entender todo contexto e não apenas o que está diante de si.

Da mesma forma que temos pessoas que se deixam levar apenas por aquilo que está em sua frente, outras  trazem consigo uma bagagem que não foi ela quem conquistou, mas que vem de geração em geração, damos para isto o nome de "Tradição".

Pessoas ligadas a algumas tradições, ensinamentos passados por gerações que poucos sabem a origem, mas ninguém ousa desafiar. Sem qualquer curiosidade de entender porque fazem ou porque respeitam isto, acabam passando isto a diante. 
Embora parece ser algo sem importância, precisamos ter muito cuidado com algumas destas questões, Jesus nos alerta para isto:

“E, assim, invalidastes a palavra de Deus, por causa da vossa tradição” (Mateus 15:6). 
“Por que transgredis vós também o mandamento de Deus, por causa da vossa tradição?” (Mateus 15:3).
“E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens” (Mateus 15:9). 

É tão sério isto que Jesus chega a dizer que: "..em vão me adoram..", justamente porque colocam as tradições como regras intocáveis desafiando qualquer argumento, coerentes ou não.

Diga-se de passagem, Jesus era muito questionado sobre tradições e costumes por pessoas que traziam consigo velhas leis que vemos no Antigo Testamento.

As tradições também são responsáveis por um posicionamento contundente e definitivo para algumas pessoas incapazes de aceitar a possibilidade de dialogar. Para esta pessoas queria deixar apenas uma palavra: "Tolerância". 

A tolerância é a chave que abre uma parte do nosso cérebro onde acessamos a capacidade de ouvir.  
Quando ouvimos com atenção e ponderamos o que nos foi dito, podemos analisar melhor e aceitar ou não tudo que foi explanado. Se depois de tudo ainda não concordarmos, certamente seus argumentos estarão mais fortalecidos.

O importante é enxergar sempre com um sentimento de respeito aquela pessoa que pensa diferente de nos.
Dentro de cada um de nós existem infinitas possibilidades, sonhos e pensamentos que voam em diversas direções. Talvez seja de comum acordo que todos buscam a felicidade, mas para cada "mundo", que cada um de nós representa, a felicidade é encontrada em lugares diferentes, por isto divergimos em determinadas situações.
O respeito é o equilíbrio que faz estas diferenças coexistirem, sem ele tudo fica mais complicado e estressante.

Quero terminar com um trecho de um pensamento de Ricardo Gondim:
"..Quero falar de Deus sem exigências messiânicas; desprovido da presunção de lídimo defensor da sã doutrina. Desejo tão somente oferecer o ombro e abrir mão de minhas muitas explicações. Se no passado confundi entusiasmo com afobação, zelo com intolerância, arrojo com precipitação, hoje tento um pisar mais simples diante de Deus e dos homens.

Quero falar de Deus com mansidão. Sem reputação a defender. Quero encarnar o significado mais profundo de “estar crucificado com Cristo”. Depois de tantos anos, ainda não me vesti da mesma atitude do meu Senhor, que se esvaziou para servir.
Quero falar sobre bondade, essa rara e nobre virtude que transcende nossas ações para nos integrar ao agir de Deus. Preciso ser bondoso comigo mesmo, não deixando que falsas culpas detonem processos internos de intransigência com o próximo; ser paciente com as inadequações dos que claudicam e doar-me como São Francisco de Assis: “Ó Mestre, fazei que eu procure mais consolar que ser consolado; compreender que ser compreendido, amar que ser amado. Pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado e é morrendo que se nasce para a vida eterna”.

Soli Deo Gloria.
José Luiz de Paiva