Recentemente, em conversa com um amigo que não vejo a muitos anos, falamos sobre nosso dia a dia. Durante a conversa surgiu um assunto delicado que vem enfrentando e o tem deixado muito preocupado, não vou mencionar detalhes, mas quero comentar algumas das situações que foram colocadas.
Esta situação me fez criar coragem e entrar em
um assunto do qual nunca antes tinha mencionado, ao longo de mais de 30 anos de
amizade, nunca antes tinha dividido com ele a fé que pratico e das Graças de
Deus que pude experimentar em minha vida. Talvez alguns céticos estejam vendo
nisso uma virtude, uma forma de respeito com aqueles que não partilham da mesma
fé, mas na verdade não me orgulho disto.
Este assunto surgiu justamente
por esta situação que mencionei, senti em meu coração que deveria falar algumas
coisas sobre Deus, mesmo correndo o risco de perder aquele contato, já que
sempre o percebi fechado para este tema, na verdade acreditava que fosse
ateu.
Depois de falar algumas coisas que senti no coração,
para minha surpresa, ele me confidenciou que já pensou ter sido ateu um dia,
mas descobriu que na verdade não era, usando suas próprias palavras. Nesta
conversa que tivemos, pude conhecer um pouco sobre a "ideia" de Deus
que passa em sua cabeça e algumas de suas experiências nesta área.
Durante este tempo que estivemos a falar, ele
mencionou experiências que teve com dois amigos que conheceu e que se
intitulavam cristãos.
No primeiro relato, falou de alguém que vinha de uma vida difícil e intensa, ciente do seu instinto de autodestruição, chegando ao ponto de fazer usos de substâncias proibidas, consciente que se continuasse nesta vida seu fim seria trágico, não tinha mais esperanças de que algo de bom pudesse acontecer, até encontrar alguém que o fez mudar.
Nesta trajetória, passou a frequentar uma igreja e
segundo seu próprio relato, sua vida mudou, conseguiu encontrar um objetivo e
hoje desfruta de algo novo, uma vida saudável, uma carreira sólida e mesmo com
problemas do cotidiano, vive dias felizes.
Diante do que tinha sido exposto
por ele, meu amigo foi direto em seu questionamento e fez a seguinte pergunta:
"Acredita de fato em Deus?"
Para sua surpresa, apesar desta mudança que relatamos
ele confessou não saber dizer se crê mesmo em tudo que é "pregado"
ali, não tem ainda uma ideia formada sobre Deus, mas entende que a convivência
e as "regras" que ele aprendeu a seguir dentro daquela comunidade
cristã mudou por completo sua vida e trouxe uma paz que ele jamais havia
experimentado.
Quanto ele me contou isso, fiquei a pensar o quanto é
verdadeira esta situação, quantas pessoas passaram por isto dentro de nossas
igrejas, uma vida disciplinada que reflete uma religiosidade, mas que ainda
vive sem compreender a dimensão disto tudo, ou seja, sem ter a certeza sobre o
poder de Deus nesta transformação. Parece contraditória uma situação onde
estamos a ir buscar a Deus, sentimos nossa vida mudar, mas ainda não
conseguimos atribuir toda esta mudança ao poder invisível, mas real de
Deus.
É bom dizer aqui que nunca vamos
compreender a dimensão de Deus, é exatamente neste ponto onde muitos se
confundem, vivem tentando chegar a um determinado conhecimento para só depois
se entregar. Lamento dizer, mas esta entrega jamais acontecerá se este for seus
termos.
Um "deus" que caiba em
nosso entendimento, é um "deus" que pode facilmente ser substituído
por qualquer outra mente um pouco mais privilegiada. A verdade é que jamais
vamos compreender a dimensão de Deus, cremos através da fé.
Outro fato que me chamou a atenção neste relato, foi a
disciplina que ele resolveu aceitar dentro da igreja e que serviu como um
caminho para ele sair da vida que levava, talvez teve ajuda das boas companhias
que encontrou naquela comunidade, porque como lemos em I Coríntios
13:33: "As más companhias corrompem os bons costumes”, e da
mesma forma, podemos entender que as "boas companhias" nos ajudam a
nos reestruturar.
Aparentemente foi o que aconteceu, mas ainda faltou
uma compreensão maior, aceitar o fato de que aquelas pessoas a sua volta foram
cuidadosamente escolhidas por Deus, a obra do Senhor estava sendo feita com
aquelas ferramentas (pessoas) que a cada reunião estavam ali em comunhão
ouvindo a Palavra de Deus, orando e louvando ao Senhor. Deus o colocou
exatamente onde ele precisava estar e isto fez a diferença em sua vida.
No segundo relato, comentou sobre alguém com uma vida totalmente diferente, um homem bondoso, caridoso e preocupado em seguir os conceitos de justiça.
Ele narra a vida de uma pessoa que
valoriza as boas obras, indo até os necessitados para ajudar
com mantimentos, palavras de conforto e chegando ao ponto de adotar duas
crianças, uma delas já adolescente, um jovem totalmente desestruturado e com
problemas graves de aceitação e comportamento.
Segundo ele, foi uma batalha longa até conseguir
"educá-lo", hoje este rapaz o ajuda em suas visitas e em suas obras
assistenciais, uma verdadeira vitória.
Diante desta situação, este meu amigo, resolveu
perguntar sobre sua igreja, para sua surpresa ele respondeu que aquele grupo
que o ajudava nessas missões vinham de várias ramificações, não
tinham uma denominação específica e não se preocupavam muito com a questão da
religião. Por algum motivo não se sentiu à vontade para dizer se de fato
frequentava algum lugar.
Estas ações eram realizadas com aquele grupo, talvez
sem nenhum compromisso com alguma denominação, mas apenas entre eles. De
qualquer forma percebemos aqui uma pessoa prática, intensa, mas com algumas
dificuldades em fundamentar do ponto de vista doutrinário e bíblico a sua
fé.
Quando ele terminou de contar esses fatos, consegui
ter uma pequena noção da confusão que vivenciava em sua busca por uma
resposta. Duas tentativas e dois extremos, mas que, para ele, faziam algum
sentido e por isto resolveu guardar como experiência.
Em sua mente poderia sim existir
várias formas, vários caminhos até Deus e esta ideia, que se tornava mais forte
em sua mente abria espaço para teorias.
Recentemente estava a ler um texto, publicado em uma
rede social, que infelizmente não indicava o autor, que trazia a seguinte
frase: "Jesus continua indigesto para muitos cristãos, inclusive para
mim."
Quando olhamos para o exemplo deixado por Jesus, crer em seus ensinamentos e ter fé que Ele é filho de Deus e morreu por nossos pecados, que está à destra de Deus Pai como único intermediário entre Deus e os homens, é algo que para muitos a princípio parece bem indigesto. Jesus é O Único capaz de nos dar respostas, atendendo nossas orações e aliviar a dor em nosso coração.
Fico a imaginar quantas pessoas
passam por isto, quantas mentes se perdem diante de dúvidas humanas enquanto,
na verdade, nossos exemplos não podem vir da carne, mas do Espírito.
Nestas duas situações expostas ficou claro que ambos conviviam com problemas de base em sua fé cristã, um vivendo fundamentado em regras e o outro em bom comportamento.
Jesus, enquanto
"homem", veio a Terra e morreu por nossos pecados, sendo Ele sem pecado
e deixou o Espírito Santo de Deus para nos orientar.
"...E eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro
Conselheiro para estar com vocês para sempre, o Espírito da verdade…" João
16,17
Não podemos fundamentar ou querer entender a fé tendo por base exemplos vindos de outras vidas humanas, ".... Contudo, não existe
um homem tão justo sobre a face da terra que saiba fazer o bem sem jamais
pecar!..." Eclesiastes 7:20.
Quando falamos e pregamos sobre Deus, não estamos a nos colocar em evidencia ou a exaltar nossas virtudes, é por isto que me alegro quando leio a Palavra de Deus em I Cor. 1:23-25:” ...nós, porém, pregamos Cristo crucificado, o qual de fato, é escândalo para os judeus e loucura para os gentios, mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia que a sabedoria humana, e a fraqueza de Deus é mais forte que a força do homem."
É exatamente isto que estamos a semear quando falamos sobre Deus, a primeira vista a "loucura"
que estamos a oferecer, não nos parece nada agradável sem a ação do Espírito Santo em nossas vidas.
Assim como nossos atos podem trazer ou afastar
pessoas, o máximo que podemos conseguir delas é que se convençam de algo, hoje
aceitam seus argumentos, mas amanhã se deixam levar por outros, mas quando Deus
age, não se trata de convencer, mas
converter.
Para terminar, gostaria de partilhar aqui uma conversa que tive com meu amigo Daniel Sampaio, leitor e admirador de Astrofísica. Ele me confidenciou que em sua opinião a cada dia o homem está mais ligado a coisas práticas, visíveis e palpáveis, por isto se vangloriam da ciência e tecnologia. Realmente fizemos muitas coisas através delas, mas que na verdade tudo que existe de teoria e engenharia, na área de inventos, é fruto de apenas quatro por cento de tudo que conseguimos observar e mapear.
No "universo conhecido", noventa e seis por
cento é matéria e energia escura, um mistério que, apesar de sentir esta força,
a matéria ordinária (bariônica), aquilo que conhecemos são apenas quatro por
cento.
Com isto ele conclui: "Não
podemos ter a pretensão de querer conhecer um Deus que transcende muito além da
nossa realidade, sendo que em nossa própria realidade física, objetiva e
concreta só conseguimos entender quatro por cento dela."
Uma bela análise feita por Daniel. Precisamos
salientar que a nossa compreensão nunca chegará ao ponto de conseguir conhecer
Deus em sua totalidade. Cristo é alcançado por nossa fé e como respostas a necessidade humana de
Salvação.
"Ora, a fé é o firme
fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não
veem." Hebreus 11:1
Não se deixe enganar, as dificuldades pelas quais
estamos a passar não são despercebidas por Deus. Estamos a enfrentar algo
relativamente novo, mas o Senhor ouve as nossas orações e entra com Suas
providências, mesmo quando não conseguimos compreender suas ações.
Texto escrito por: José Luiz Paiva
Colaboradores: Pastor Candido e Daniel Sampaio
Revisão: Amanda Paiva
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