Sempre que me perguntam porque Deus deixa acontecer coisas ruins com pessoas "inocentes"; costumo responder esta questão usando uma frase de Baruch Spinoza: “As coisas nos parecem absurdas ou más porque delas só temos um conhecimento parcial e estamos na completa ignorância da ordem e da coerência da natureza como um todo. ”

domingo, 6 de junho de 2021

Onde Está Sua Fé

A fé é a certeza que depositamos no Senhor Deus de que, mesmo quando andamos por vales sombrios dos quais não temos controle sobre a situação, Ele está ao nosso lado para nos consolar. Como bem descreveu o salmista (Salmo 24:4).

Recentemente, em conversa com um amigo que não vejo a muitos anos, falamos sobre nosso dia a dia. Durante a conversa surgiu um assunto delicado que vem enfrentando e o tem deixado muito preocupado, não vou mencionar detalhes, mas quero comentar algumas das situações que foram colocadas.

Esta situação me fez criar coragem e entrar em um assunto do qual nunca antes tinha mencionado, ao longo de mais de 30 anos de amizade, nunca antes tinha dividido com ele a fé que pratico e das Graças de Deus que pude experimentar em minha vida. Talvez alguns céticos estejam vendo nisso uma virtude, uma forma de respeito com aqueles que não partilham da mesma fé, mas na verdade não me orgulho disto. 

Este assunto surgiu justamente por esta situação que mencionei, senti em meu coração que deveria falar algumas coisas sobre Deus, mesmo correndo o risco de perder aquele contato, já que sempre o percebi fechado para este tema, na verdade acreditava que fosse ateu. 

Depois de falar algumas coisas que senti no coração, para minha surpresa, ele me confidenciou que já pensou ter sido ateu um dia, mas descobriu que na verdade não era, usando suas próprias palavras. Nesta conversa que tivemos, pude conhecer um pouco sobre a "ideia" de Deus que passa em sua cabeça e algumas de suas experiências nesta área. 

Durante este tempo que estivemos a falar, ele mencionou experiências que teve com dois amigos que conheceu e que se intitulavam cristãos.


No primeiro relato, falou de alguém que vinha de uma vida difícil e intensa, ciente do seu instinto de autodestruição, chegando ao ponto de fazer usos de substâncias proibidas, consciente que se continuasse nesta vida seu fim seria trágico, não tinha mais esperanças de que algo de bom pudesse acontecer, até encontrar alguém que o fez mudar.

Nesta trajetória, passou a frequentar uma igreja e segundo seu próprio relato, sua vida mudou, conseguiu encontrar um objetivo e hoje desfruta de algo novo, uma vida saudável, uma carreira sólida e mesmo com problemas do cotidiano, vive dias felizes. 

Diante do que tinha sido exposto por ele, meu amigo foi direto em seu questionamento e fez a seguinte pergunta: "Acredita de fato em Deus?"

Para sua surpresa, apesar desta mudança que relatamos ele confessou não saber dizer se crê mesmo em tudo que é "pregado" ali, não tem ainda uma ideia formada sobre Deus, mas entende que a convivência e as "regras" que ele aprendeu a seguir dentro daquela comunidade cristã mudou por completo sua vida e trouxe uma paz que ele jamais havia experimentado. 

Quanto ele me contou isso, fiquei a pensar o quanto é verdadeira esta situação, quantas pessoas passaram por isto dentro de nossas igrejas, uma vida disciplinada que reflete uma religiosidade, mas que ainda vive sem compreender a dimensão disto tudo, ou seja, sem ter a certeza sobre o poder de Deus nesta transformação. Parece contraditória uma situação onde estamos a ir buscar a Deus, sentimos nossa vida mudar, mas ainda não conseguimos atribuir toda esta mudança ao poder invisível, mas real de Deus. 

É bom dizer aqui que nunca vamos compreender a dimensão de Deus, é exatamente neste ponto onde muitos se confundem, vivem tentando chegar a um determinado conhecimento para só depois se entregar. Lamento dizer, mas esta entrega jamais acontecerá se este for seus termos. 

Um "deus" que caiba em nosso entendimento, é um "deus" que pode facilmente ser substituído por qualquer outra mente um pouco mais privilegiada. A verdade é que jamais vamos compreender a dimensão de Deus, cremos através da fé. 

Outro fato que me chamou a atenção neste relato, foi a disciplina que ele resolveu aceitar dentro da igreja e que serviu como um caminho para ele sair da vida que levava, talvez teve ajuda das boas companhias que encontrou naquela comunidade, porque como lemos em I Coríntios 13:33:  "As más companhias corrompem os bons costumes”, e da mesma forma, podemos entender que as "boas companhias" nos ajudam a nos reestruturar. 

Aparentemente foi o que aconteceu, mas ainda faltou uma compreensão maior, aceitar o fato de que aquelas pessoas a sua volta foram cuidadosamente escolhidas por Deus, a obra do Senhor estava sendo feita com aquelas ferramentas (pessoas) que a cada reunião estavam ali em comunhão ouvindo a Palavra de Deus, orando e louvando ao Senhor. Deus o colocou exatamente onde ele precisava estar e isto fez a diferença em sua vida.

 

No segundo relato, comentou sobre alguém com uma vida totalmente diferente, um homem bondoso, caridoso e preocupado em seguir os conceitos de justiça. 

Ele narra a vida de uma pessoa que valoriza as boas obras, indo até os necessitados para ajudar com mantimentos, palavras de conforto e chegando ao ponto de adotar duas crianças, uma delas já adolescente, um jovem totalmente desestruturado e com problemas graves de aceitação e comportamento. 

Segundo ele, foi uma batalha longa até conseguir "educá-lo", hoje este rapaz o ajuda em suas visitas e em suas obras assistenciais, uma verdadeira vitória.

Diante desta situação, este meu amigo, resolveu perguntar sobre sua igreja, para sua surpresa ele respondeu que aquele grupo que o ajudava nessas missões vinham de várias ramificações, não tinham uma denominação específica e não se preocupavam muito com a questão da religião. Por algum motivo não se sentiu à vontade para dizer se de fato frequentava algum lugar. 

Estas ações eram realizadas com aquele grupo, talvez sem nenhum compromisso com alguma denominação, mas apenas entre eles. De qualquer forma percebemos aqui uma pessoa prática, intensa, mas com algumas dificuldades em fundamentar do ponto de vista doutrinário e bíblico a sua fé.

Quando ele terminou de contar esses fatos, consegui ter uma pequena noção da confusão que vivenciava em sua busca por uma resposta.  Duas tentativas e dois extremos, mas que, para ele, faziam algum sentido e por isto resolveu guardar como experiência. 

Em sua mente poderia sim existir várias formas, vários caminhos até Deus e esta ideia, que se tornava mais forte em sua mente abria espaço para teorias. 

Recentemente estava a ler um texto, publicado em uma rede social, que infelizmente não indicava o autor, que trazia a seguinte frase: "Jesus continua indigesto para muitos cristãos, inclusive para mim."

Quando olhamos para o exemplo deixado por Jesus, crer em seus ensinamentos e ter fé que Ele é filho de Deus e morreu por nossos pecados, que está à destra de Deus Pai como único intermediário entre Deus e os homens, é algo que para muitos a princípio parece bem indigesto. Jesus é O Único capaz de nos dar respostas, atendendo nossas orações e aliviar a dor em nosso coração. 

Fico a imaginar quantas pessoas passam por isto, quantas mentes se perdem diante de dúvidas humanas enquanto, na verdade, nossos exemplos não podem vir da carne, mas do Espírito. 

Nestas duas situações expostas ficou claro que ambos conviviam com problemas de base em sua fé cristã, um vivendo fundamentado em regras e o outro em bom comportamento.

Jesus, enquanto "homem", veio a Terra e morreu por nossos pecados, sendo Ele sem pecado e deixou o Espírito Santo de Deus para nos orientar. 

"...E eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Conselheiro para estar com vocês para sempre, o Espírito da verdade…" João 16,17

Não podemos fundamentar ou querer entender a fé tendo por base exemplos vindos de outras vidas humanas, ".... Contudo, não existe um homem tão justo sobre a face da terra que saiba fazer o bem sem jamais pecar!..." Eclesiastes 7:20.

Quando falamos e pregamos sobre Deus, não estamos a nos colocar em evidencia ou a exaltar nossas virtudes,  é por isto que me alegro quando leio a Palavra de Deus em I Cor. 1:23-25:” ...nós, porém, pregamos Cristo crucificado, o qual de fato, é escândalo para os judeus e loucura para os gentios, mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia que a sabedoria humana, e a fraqueza de Deus é mais forte que a força do homem."

É exatamente isto que estamos a semear quando falamos sobre Deus, a primeira vista a "loucura" que estamos a oferecer, não nos parece nada agradável sem a ação do Espírito Santo em nossas vidas.

Assim como nossos atos podem trazer ou afastar pessoas, o máximo que podemos conseguir delas é que se convençam de algo, hoje aceitam seus argumentos, mas amanhã se deixam levar por outros, mas quando Deus age, não se trata de convencer, mas converter. 

Para terminar, gostaria de partilhar aqui uma conversa que tive com meu amigo Daniel Sampaio, leitor e admirador de Astrofísica. Ele me confidenciou que em sua opinião a cada dia o homem está mais ligado a coisas práticas, visíveis e palpáveis, por isto se vangloriam da ciência e tecnologia. Realmente fizemos muitas coisas através delas, mas que na verdade tudo que existe de teoria e engenharia, na área de inventos, é fruto de apenas quatro por cento de tudo que conseguimos observar e mapear. 

No "universo conhecido", noventa e seis por cento é matéria e energia escura, um mistério que, apesar de sentir esta força, a matéria ordinária (bariônica), aquilo que conhecemos são apenas quatro por cento. 

Com isto ele conclui: "Não podemos ter a pretensão de querer conhecer um Deus que transcende muito além da nossa realidade, sendo que em nossa própria realidade física, objetiva e concreta só conseguimos entender quatro por cento dela." 

Uma bela análise feita por Daniel. Precisamos salientar que a nossa compreensão nunca chegará ao ponto de conseguir conhecer Deus em sua totalidade. Cristo é alcançado por nossa fé e como respostas a necessidade humana de Salvação. 

"Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem." Hebreus 11:1

 


Não se deixe enganar, as dificuldades pelas quais estamos a passar não são despercebidas por Deus. Estamos a enfrentar algo relativamente novo, mas o Senhor ouve as nossas orações e entra com Suas providências, mesmo quando não conseguimos compreender suas ações.

 

Texto escrito por: José Luiz Paiva

Colaboradores: Pastor Candido e Daniel Sampaio

Revisão: Amanda Paiva



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