“No mundo todo havia apenas uma língua, um só
modo de falar. Saindo os homens do Oriente, encontraram uma planície em Sinear
e ali se fixaram.
Disseram uns aos outros: "Vamos fazer tijolos e queimá-los bem".
Usavam tijolos em lugar de pedras, e piche em vez de argamassa.
Depois disseram: "Vamos construir uma
cidade, com uma torre que alcance os céus. Assim nosso nome será famoso e não
seremos espalhados pela face da terra". O Senhor desceu para ver a cidade
e a torre que os homens estavam construindo.
E disse o Senhor: "Eles são um só povo e
falam uma só língua, e começaram a construir isso. Em breve nada poderá impedir
o que planejam fazer.
Venham, desçamos e confundamos a língua que
falam, para que não entendam mais uns aos outros".
Assim o Senhor os dispersou dali por toda a
terra, e pararam de construir a cidade. Por isso foi chamada Babel, porque ali
o Senhor confundiu a língua de todo o mundo. Dali o Senhor os espalhou por toda
a terra.” Gênesis
11: 1-9
Este texto sempre me vem à mente, quando me
deparo com questões e discussões sobre as quais não conseguimos mais
chegar a um denominador comum hoje em dia. Aliás, os denominadores parecem
pertencer exclusivamente a determinadas classes e militâncias.
Estamos a viver uma geração de "entendidos",
pessoas que se recusam a ouvir "não", cheias de certezas e pouco
interesse para aprender, a não ser aquilo que reforça seus argumentos. Uma
geração de "despecabilizadores".
Devo confessar que criei esse neologismo inspirado em
um áudio de alguém tão indignado quando eu mesmo, mas ele usava uma palavra um
pouco ofensiva e que não caberia repetir neste texto. Por isso, tomei a
liberdade de reproduzir um trecho da sua fala, substituindo essa palavra:
“Despecabilizando o pecado: Vivemos uma geração
incapaz de fazer uma autocrítica, de reconhecer defeitos, incapaz de ouvir “não”!
Por isso, a aversão à Bíblia, porque lá pecado é pecado e ponto final. A
lei é boa e o ser humano é ruim, ponto. Mas a geração “despecabilizadora” muda
a lei para que o homem seja bom, mesmo cometendo o pecado...”
Não poderia concordar mais com ele. Diferentemente do
texto bíblico citado, não estamos a nos entender hoje, ainda que falando o
mesmo idioma: uma Babel às avessas”.
Conseguimos entender povos de diferentes nações, mas
perdemos a capacidade de compreensão, mesmo quando estamos dentro de uma mesma
família.
Estamos prontos a questionar e, em muitos casos,
passamos horas a discutir assuntos e terminamos sem chegar um acordo. Aqueles
que observam com atenção, percebem que, muitas vezes, os dois lados
defendem o mesmo posicionamento, compartilhando a mesma opinião, mas
se expressando de maneiras diferentes.
A impressão que tenho hoje é de que a questão
colocada não tem tanta importância quando o poder por trás de cada
posicionamento e o quanto ele favorece interesses de uma minoria.
Nunca sentimos tanto a necessidade de conhecer a
diferença entre “ouvir” e “escutar”, pois hoje muitos acreditam que
possuem o mesmo significado, justamente porque apenas ouvem, mas nunca escutam.
Os jovens criaram um termo para pessoas assim: “turma
da lacração”. Para quem não sabe, são aqueles que vivem em torno de
controvérsias, que buscam polemizar tudo e, com isso, acabam manipulando o
sentido de tudo que é colocado.
A situação ficou tão séria que acabamos com reputações
sem mesmo "escutar" as pessoas envolvidas. Aqueles que ainda
compartilham o bom senso sentem-se limitadas na manifestação de suas opiniões
para não sofrerem ataques que, infelizmente, acontecem com frequência, a
não ser quando a situação favorece a "militância" que criou a
polêmica.
As opiniões não possuem poder de lei, constituindo apenas
uma forma como entendemos determinadas situações. Para as pessoas moderadas,
podemos mudar de ideia, quando nos deparamos com explicações contrárias, mas
plausíveis.
"Solte Barrabás! Crucifique Jesus!". Essa era
a voz de uma multidão manipulada por sacerdotes da época para condenarem Jesus.
O povo se rendeu à manipulação e gritaram: "Solte Barrabás!
Crucifique Jesus!" . Podemos ler isso em Marcos 15: 11-15.
Soltamos um criminoso e sentenciamos à morte o
Filho de Deus. Certamente estamos falando do ápice da manipulação, mas não se
enganem: ao cometer esse tipo de injustiça nos dias de hoje, estamos
menosprezando o sacrifício de Jesus.
"Despecabilize o pecado! Crucifiquem os que
pensam diferente!" Esse é o grito de ordem desta geração que, embora
não o verbalize, fazem muito pior: estão a viver dentro desse conceito.
Estamos a colocar de lado o ideal de moral descrita na
Bíblia, que é respeitada até por incrédulos. Esse ideal que nos tem guiado por
décadas está sendo rapidamente substituído por uma prática de mentiras criadas
por militantes “despecabilizadores”.
Esses não querem te escutar. Apenas ouvem e
rapidamente descarregam suas “certezas” como verdades absolutas, sem dar
qualquer margem a dúvidas e qualquer intenção de ponderá-las.
O fato é que estamos a nos afastar da moral que nos guia
e que sempre nos livrou de catástrofes morais. Até mesmo incrédulos tinham
como princípios tudo aquilo que conhecemos como certo e errado.
A Palavra de Deus através da Bíblia, como ela mesma se
descreve no livro de Salmos 119: 105, sempre foi essa fonte de moral a nos
guardar e manter até os dias de hoje: “Lâmpadas para meus pés
é a tua palavra, e luz para meus caminhos”.
Estamos a viver tempos em que os
“despecabilizadores” tentam apagar essa luz, mas a Palavra de Deus é
eterna e não muda.
“Porque em verdade vos digo que, até que o céu e
a terra passem, nem um jota ou um til jamais passará da lei, sem que tudo seja
cumprido. Qualquer pois, que violarem destes mandamentos, por menor
que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado de menor no reino dos céus;
aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino
dos céus." Mateus 5:18,19.
Talvez convenha entender que seria mais honesto
assumir que, apesar de tudo que a Palavra de Deus nos diz e alerta, ainda assim
muitos preferem arriscar na escuridão ou no engano de outras “luzes”. Convém
analisar se o que falta não é coragem para viver com as consequências ao invés
de tentar afagar o ego na tentativa de “despecabilizar” o pecado.
Texto: José Luiz
Revisão: Ricardo Cano