Sempre que me perguntam porque Deus deixa acontecer coisas ruins com pessoas "inocentes"; costumo responder esta questão usando uma frase de Baruch Spinoza: “As coisas nos parecem absurdas ou más porque delas só temos um conhecimento parcial e estamos na completa ignorância da ordem e da coerência da natureza como um todo. ”

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Tradições, Evolução e Comportamento

Ao longo dos tempos, vivemos contabilizando os velhos hábitos que vamos perdendo e costumes que vão ficando no caminho. Tudo parece seguir dentro de uma normalidade; afinal, existe uma evolução natural, quanto mais a humanidade vai adquirindo conhecimento tudo tende a evoluir.

A evolução que vamos sofrendo neste percurso, atinge várias áreas de nossas vidas, mas nada me assusta tanto quando saímos do campo das tecnologias e entramos na área comportamental. 

Quando jovens nos sentimos um pouco incomodados ao ouvir relatos de como as coisas eram no passado, não podemos generalizar, mas existe uma tendencia entre os mais jovens em se apoiar na velha retórica: “Hoje os tempos são outros”.

Deixando o saudosismo de lado, realmente temos que admitir, os tempos são outros, afinal não ficamos parados, o calendário sempre está a nos alertar sobre isto e de forma natural vamos envelhecendo enquanto o mundo “evolui”.

Até aqui compreendemos que o tempo não pára e as coisas mudam, mas será que todas elas precisam mudar?

Estamos sempre aprendendo coisas novas e a evolução acontece em todas as áreas, mas se pararmos para pensar, talvez fosse melhor separar, quando falamos sobre tecnologias e quando nos referimos a usos e costumes.

Minha maior preocupação é nesta segunda parte, especificamente quando nos referimos a moral (ética), "evoluir" seria a palavra correta?

Esta questão me fez refletir sobre os limites e me motivou a deixar aqui a seguinte questão: Existe um limite para o que chamamos de "evolução"?

Em minha juventude existia uma expressão que muitas pessoas usavam quando falavam de suas expectativas para o futuro, que era: "O céu é o limite" (Apenas por curiosidade, O Céu É o Limite, foi o nome dado a um programa de televisão de 1955 no Brasil, sendo considerado o primeiro programa de perguntas e resposta da TV aberta, o chamado "Game Show"). Essa expressão aos poucos se popularizou e passou a ser utilizada como uma forma de dizer que nada era impossível quando se deseja alcançar um objetivo. 

Nada nos impede de crescermos intelectualmente, conhecer novas formas e facilidades, tudo faz parte do nosso crescimento. Parece ser impossível frear estas mudanças, mas será que todas elas cooperam para no nosso bem?

Quando analisamos superficialmente podemos até pensar que sim, mas quando prestamos um pouco mais de atenção, percebemos que estamos perdendo em algumas questões, algumas delas que sempre serviram de alicerces da sociedade, entre elas a moderação, empatia e o poder de se indignar.

 Moderação:

Algum tempo atrás, tudo (ou todos) que fugia aos padrões normais da época era discriminada, sofriam retaliações e censuras, mas hoje estamos vivendo o outro extremo e todas as opiniões parecem polarizadas. 

Sofremos com isto, porque precisamos tomar partido do que acreditamos, mas as reações dos que pensam diferente chegam aos extremos, não parece existir mais a compreensão e respeito mútuo. 

Empatia:

Estes extremismos que vivemos hoje nos impede de enxergar a necessidade que temos em compreender as pessoas, sentir o sofrimento que as aflige e estender as mãos para o ser humano que está a nossa frente. Independentemente de suas escolhas, não podemos optar por um radicalismo, apenas porque não concordamos como seu estilo de vida e sua maneira de ser.

Indignar:

Várias áreas de nossas vidas têm sofrido com estas mudanças no comportamento humano, como se tudo fosse natural, o certo e o errado perderam espaço. É comum hoje aceitar a forma como vivem algumas pessoas, simplesmente porque isto parece em nada interferir em nós, a necessidade de manter a amizade e o status de uma pessoa "moderna" fala mais alto.

Aceitar nas outras pessoas aquilo que elas vivem, não é a questão, podemos dizer que é até uma forma de empatia, o problema é não entender que aquela atitude ou ação, não condiz como os padrões éticos e morais. Podem agora estar a pensar: "Mas quem instituiu estes padrões?". 

Calma, vamos lá chegar. 

 O Céu é o Limite:

Passei minha juventude ouvido esta frase e nunca concordei tanto com ela como nos dias de hoje, não por seu suposto infinito, mas por sua representatividade, o Céu como a casa de Deus.

Deus deve ser o que nos limita, não aquele "deus" que cabe dentro dos nossos entendimentos, que foi forjado com a nossa "moral",  mas Aquele que transcende pensamentos e compreensões. 

Respondendo a pergunta: "Mas quem instituiu estes padrões?"  

Tudo aquilo que entendemos como moral (ética), vem da Palavra de Deus. Todas as leis sobre comportamento que sustentaram a humanidade até os dias de hoje, vem da Palavra de Deus e são estes os limites que esta modernização desenfreada está tentando banalizar, como se não tivessem mais importância. 

O pecado não quer mais o rótulo de "pecado", em sua arrogância, o pecador, não quer mais o rótulo de "pecador", a não ser quando pretendem justificar suas falhas. 

O mundo sempre nos ofereceu vários caminhos, mas a Palavra de Deus pede para nos posicionarmos, que não nos deixemos levar com o vento, esta é tal da porta estreita mencionada em Mateus 7:13,14.

"Entrai pela porta estreita; porque a larga é a porta, espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem."

Tenho aqui comigo que as pessoas que preferem a porta larga são como aquelas que um dia escolheram Barrabás ao invés de Jesus.

Para quem não conhece a história, Barrabás fazia parte de um grupo de rebeldes e tinha em seu currículo até mesmo assassinato. A Bíblia fala pouco dele e não conta o que aconteceu depois que foi libertado.

Na altura da Páscoa, o governador romano tradicionalmente soltava um judeu da prisão. Quando Jesus foi preso, o governador Pilatos viu que Ele era inocente e tentou defendê-lo, mas o povo não quis ouvir. Então Pilatos decidiu usar a tradição da Páscoa para libertá-lo. Ele deu uma escolha ao povo: soltar Jesus, que não tinha cometido nenhum crime grave, ou soltar Barrabás, um conhecido criminoso de mau caráter. Mas, contra suas expectativas, o povo escolheu Barrabás. Pilatos respeitou a escolha e soltou Barrabás, enviando Jesus para morrer na cruz. Marcos 15:6-15

Entrando um pouco no campo da especulação, poderíamos pensar que muitos que estavam na multidão conheciam Barrabás, sabiam do seu mal comportamento, mas não provocava mais indignação porque  viviam em seus extremos. Saindo agora do campo da especulação e falando com toda convicção, aquelas pessoas que escolheram Barrabás não conheciam o suficiente sobre Jesus e por isto o rejeitaram.

Consigo enxergar esta atitude nos dias de hoje, fechamos os nossos olhos ao pecado porque conhecemos pouco sobre a Graça de Deus e com isto somos solidários aos pecadores, aceitando suas atitudes, criamos dentro de nós um censo de "justiça" moderna e evoluída.

Felizmente não é assim que as coisas funcionam, podemos tentar modernizar muitas coisas, mas nunca a Palavra de Deus: "O céu e a terra passarão, mas as minhas Palavras jamais passarão…" Mateus 24:35

Na verdade a Palavra de Deus é sempre atual, presente em todos os nossos dilemas e questionamentos, porque Ela é viva. 

Muitas pessoas "boas" falam sobre Deus e até acreditam que suas atitudes são suficientes para agradá-lo, alguns até discutem sobre a Bíblia mesmo sem ter o hábito da leitura.

Para ser justos, podemos, também, mencionar aqueles dentro do ambiente cristão, que, infelizmente, são extremistas e em nome do que entende na Palavra não demoram em condenar os que pensam diferente dos seus ensinamentos e dogmas, como se tivesse este poder. 

Motivo Real Para Este Texto ter Nascido:

Quando pensei em escrever este texto, tinha em mente um assunto do qual me incomodava, mas resolvi falar antes sobre a evolução, usos e costumes, para tentar compreender onde foi que começamos a tomar caminhos diferentes.

O que motivou a escrever, aconteceu depois de uma conversa que tive com pessoas próximas sobre questões que que envolviam sexualidade, mais propriamente a homossexualidade.

Meus interlocutores colocavam esta questão como "algo normal", não sei se era a ideia que queriam me passar, mas dava a entender que a homossexualidade se trata apenas de uma forma que a "natureza" proporcionou ao ser humano para "corrigir" um erro no nascimento de determinadas pessoas. Para ser específico, o assunto se tratava sobre uma alguém que nasceu mulher, mas não se sentia assim. 

Por tudo que comentei anteriormente já podem imaginar meu ponto de vista, ao qual foi rebatido de imediato com os argumentos que era algo normal hoje e, também, "não existia nada na Bíblia que falasse contra isto". 

 Antes de ir além, é bom deixar claro que a questão nunca foi e jamais será o ser humano por trás disto tudo, mas a prática em si, a homossexualidade e não o homossexual, como bem relata em Efésios 6:12,13:

"Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mal e, havendo feito tudo, ficar firmes."

A sexualidade humana é complexa, isto nos afeta fisicamente, mentalmente e emocionalmente. Depois da queda, Deus nos deu leis espirituais para garantir que a sexualidade pudesse continuar sendo a bênção que Ele pretendia que fosse.

“E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a! …. Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne. ” Gênesis 1,27-28 e Gênesis 2,24.

Depois da queda, no entanto, os puros instintos sexuais das pessoas foram contaminados pelo pecado e de repente, eles ficaram envergonhados de sua nudez (Gênesis 3: 7,10-11). Despertaram-se desejos impuros, que viriam a assolar seus descendentes por todas as gerações.

O desejo sexual não é pecado, mas ceder a eles sim. Quando falamos sobre isto, estamos incluindo o sexo extraconjugal, pensamentos sexuais impuros e práticas homossexuais, como é descrito no Velho e no Novo Testamento. 

"Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é..." Levítico 18,22.

Todas as pessoas enfrentam provações e dificuldades na vida, tanto em suas circunstâncias físicas como em sua vida espiritual. Não viver de acordo com a orientação homossexual inata pode exigir, em algumas pessoas, um enorme sacrifício, mas Deus abençoa aqueles que vivem totalmente para Ele. Ninguém que tenha verdadeiramente desistido de tudo para servir a Deus, vai se arrepender. Ele só quer o melhor para nós.

“Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar. ” 1 Coríntios 10; 13.

Embora a Bíblia desaprove as práticas homossexuais, ela não apoia a homofobia ou o ódio aos homossexuais. Em vez disso, os cristãos são aconselhados a respeitar todas as pessoas (1 Pedro 2:17). 

Em Romanos 1:27 lemos: “E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro. ”

Levítico 20:13: “ Se um homem se deitar com outro homem, como se fosse com mulher, ambos terão praticado abominação; certamente serão mortos; o seu sangue será sobre eles. ”

Voltando em Romanos 1: 24 a 27: "Por isso Deus os entregou, nas concupiscências de seus corações, imundícia, para serem os seus corpos desonrados entre si; pois trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram criatura antes que ao Criador, que é bendito eternamente. Amém. Pelo que Deus os entregou a paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural no que é contrário natureza;" 

Em 1 Coríntios 6:9-11: “Não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbedos, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus. ”

Assim como podemos perceber, a Palavra de Deus não se exime de falar sobre este assunto, podemos recusar seus ensinamentos, mas jamais dizer que não fomos alertados.

Qualquer pessoa possui o direito de escolher a forma como deseja viver, até então não podemos interferir, a não ser respeitar. A questão é que hoje o nosso respeito não parece ser suficiente para algumas, querem a nossa aceitação, não apenas para a pessoa, mas também para suas práticas. Quando nos recusamos, muitos rótulos surgem, o mais comum é "homofóbico". 

Estas pessoas não percebem que estão agindo exatamente conforme as suas acusações, cerceando o direito de outras pessoas terem opiniões e viver de uma forma diferente.

Não temos o poder ou o direito de julgar uma outra pessoa, mas a Palavra de Deus, através do Espírito Santo, nos capacita a ter discernimento sobre o pecado, é por isto que precisamos nos posicionar. 

Meu coração estará sempre aberto para as pessoas, sejam quais forem suas escolhas, mas a certeza que tenho em Deus, me faz compreender as práticas que precisamos evitar, aquelas a que Ele condena.

 Por fim quero lembrar que não é com o meu posicionamento que precisam se preocupar, mas com o julgamento do Único que tem o direito de o fazê-lo e o fará. Deus.